Racionalidade Económica
Encontrei este artigo interessante na revista Dia D, um suplemento do jornal PÚBLICO do dia 29 de Setembro de 2006, do autor do livro Freakonomics – O Estranho Mundo da Economia, com uma coluna com o mesmo nome na dita revista, e achei interessante, para além de expô-lo no blog, tecer um breve comentário.
“Este Verão estive com a minha família nos Wisconsin Dells. O parque aquático onde estávamos instalados oferecia às crianças o entrançar do cabelo pela seguinte tabela de preços:
Três tranças: 10 dólares
Seis tranças: 22 dólares
Cada trança adicional: 4 dólares
As pessoas que entrançavam ficaram impávidas e serenas quando a minha mulher (que não é economista mas que aprendeu a pensar como se fosse) as confrontou com estes argumentos. Disseram que tudo bem se a minha filha quisesse fazer três tranças e voltar mais tarde para fazer outras três ao preço mais baixo, mas que não podiam fazer-lhe as seis tranças por 20 dólares. Eu, infelizmente, não estava lá aquando desta troca de ideias, porque tinha ido com a nossa filha mais nova, a Sophie, fazer uma tatuagem temporária. Sabe-se lá porquê, de mais de 100 opções ela decidiu-se por uma tatuagem do Jim Morrison. Lá consegui convencê-la a fazer um tigre. O pessoal das tatuagens tinha uma noção muito melhor sobre fixar preços: a primeira cor custava 5 dólares e por cada cor adicional pagava-se apenas mais um dólar. A propósito, as seis tranças da minha filha Olívia ficaram lindas, embora 22 dólares não tenha sido nenhuma pechincha.”
Steven D. Levitt (Tradução de Ana Isabel Palma da Silva)
Os argumentos apresentados pelo autor são válidos e concordo com os mesmos, mas com algumas reservas. Repare-se que há uma separação física, neste caso, entre o consumidor e o pagador, neste caso a filha e a mãe, respectivamente. Não querendo questionar a racionalidade económica da filha, até porque não sei a idade da mesma nem se esta domina a matemática básica, penso que não se importaria que a mãe pagasse os tais 2 dólares extra para ter as seis tranças feitas ao mesmo tempo se fosse esse mesmo o seu desejo. O vendedor, ao aperceber-se de essa possibilidade de aumentar o lucro mesmo invertendo uma premissa de racionalidade económica (aumentam as quantidades, diminui o preço unitário e o preço marginal), está na verdade a corroborar outra premissa de racionalidade económica ao tentar aumentar o lucro final.
A racionalidade económica não passa de um mito aborrecido. Enquanto existirem funções para todos os gostos conseguimos ter uma racinalidade com qualquer tipo de preço. Neste caso basta que a utilizade siga uma função do género:
U = arctg(P - a) + b
a, b >0
Os motivos para que assim seja podem ser inventados depois, não precisam de ser muito bons, uma função arctg basta para impressionar e convencer. Então se o economista for de qualidade (= apareça na televisão)... É persuasão garantida.
Tranças?! A racinalidade económica devia dizer é que nos deviam pagar para as fazermos. :)
Posted by razio | 8/10/06 01:37
Não é P, é Q. arctg não é o melhor exemplo, mas já dá.
Posted by razio | 9/10/06 00:14
Interessante...
De facto há situações várias em que o mesmo se verifica, por exemplo, basta ir ao supermercado.
Há poucos dias queria comprar cogumelos enlatados e dentro da mesma marca, verifiquei que as latas com mais quantidade tinham um preço por Kg superior aos das latas mais pequenas. Dá que pensar até porque temos que considerar que é preciso embalar mais latas pequenas, são precisas mais latas e rotular as mesmas e tudo isto tem custos que, teoricamente, fariam com que as latas com menores quantidades tivessem um preço por Kg superior.
Mas pegando na história exposta, concordo plenamente razio:
Tranças?! A racinalidade económica devia dizer é que nos deviam pagar para as fazermos. :)
Posted by as_te_ri_x | 15/10/06 21:55
Efectivamente, tranças? Eu sou careca... Desconstrução de mitos é um dos objectivos primários deste blog.
E já agora, noites grátis, sim ou não?
Posted by Vitor Pina | 24/10/06 21:06