nós - outros
Duas histórias que mostram bem o que os portugueses têm por fazer.
Contrariado, fui ver o filme Voltar e se me estou a dar ao trabalho de escrever sobre ele é porque fui surpreendido pela qualidade do filme (recomendo cautela com os críticos que analisam o filme em comparações com a obra do realizador em vez do restante panarama cinematográfico). Com excelentes trabalhos ao nível da representação, o filme consegue dar peso ao prato da balança mais emocional e ao prato da boa disposição, resultando num bom equilíbrio entre ambos.
O que me motivou a escrever sobre o filme foram as semelhanças entre vários daqueles ambientes espanhóis e os portugueses. O conjunto de valores das pessoas, a forma como se comportam nos funerais, o hábito de limpar campas regularmente e até de as comprarem com avanço, o papel de Raimunda que cabe perfeitamente num tipo de mulher despachada que por estas bandas podemos encontrar, até a roupa das pessoas da aldeia, tudo parece convergir com o que fica a sul do rio Minho. Mudassem a língua e as matrículas dos carros e não teríamos problemas em dizer que se tratava de Portugal.
Encontrei deste modo, num filme que nem sequer é português, um bom retrato de Portugal, aquele Portugal a sério que não se sente desconfortável com ser português nem aspira a ser uma nação estrangeira*. Isso bastou para me impressionar com o filme desde início, depois o mérito vai para actores e realizador.
Continuando nestas questões de encontrar Portugal, recentemente comprei o livro Portuguese Voyages 1498-1663 Tales os the Great Age of Discovery, que é um compilação de vários livros dessas viagens, por exemplo uma carta de Pedro Vaz Caminha sobre a descoberta do Brasil ou o "Roteiro da viagem que em descobrimento da India pelo Cabo da Boa Esperança", entre muitos outros. Para poder ler estes documentos de grande interesse é evidente que não preciso de ler a tradução inglesa: também já encontrei vários dos textos em francês. É curiosa esta forma de nos tratarmos a nós mesmos. Os ingleses tentam apropriar-se do Infante D.Henrique dado que a sua mãe, Filipa de Lencastre, tem origem inglesa. Com o nosso afinco em promover o que é nosso não me admirava nada que tivessem sucesso. Afinal, Colombo só é tão famoso porque não não soubemos promover adequadamente os nossos feitos muito menos "aleatórios"...
É estranho que para encontrar Portugal tenha de ir ao que se produz fora do país.
* refiro-me evidentemente há nossa "desproporcionada capital", a mais provinciana da Europa.
Contrariado, fui ver o filme Voltar e se me estou a dar ao trabalho de escrever sobre ele é porque fui surpreendido pela qualidade do filme (recomendo cautela com os críticos que analisam o filme em comparações com a obra do realizador em vez do restante panarama cinematográfico). Com excelentes trabalhos ao nível da representação, o filme consegue dar peso ao prato da balança mais emocional e ao prato da boa disposição, resultando num bom equilíbrio entre ambos.
O que me motivou a escrever sobre o filme foram as semelhanças entre vários daqueles ambientes espanhóis e os portugueses. O conjunto de valores das pessoas, a forma como se comportam nos funerais, o hábito de limpar campas regularmente e até de as comprarem com avanço, o papel de Raimunda que cabe perfeitamente num tipo de mulher despachada que por estas bandas podemos encontrar, até a roupa das pessoas da aldeia, tudo parece convergir com o que fica a sul do rio Minho. Mudassem a língua e as matrículas dos carros e não teríamos problemas em dizer que se tratava de Portugal.
Encontrei deste modo, num filme que nem sequer é português, um bom retrato de Portugal, aquele Portugal a sério que não se sente desconfortável com ser português nem aspira a ser uma nação estrangeira*. Isso bastou para me impressionar com o filme desde início, depois o mérito vai para actores e realizador.
Continuando nestas questões de encontrar Portugal, recentemente comprei o livro Portuguese Voyages 1498-1663 Tales os the Great Age of Discovery, que é um compilação de vários livros dessas viagens, por exemplo uma carta de Pedro Vaz Caminha sobre a descoberta do Brasil ou o "Roteiro da viagem que em descobrimento da India pelo Cabo da Boa Esperança", entre muitos outros. Para poder ler estes documentos de grande interesse é evidente que não preciso de ler a tradução inglesa: também já encontrei vários dos textos em francês. É curiosa esta forma de nos tratarmos a nós mesmos. Os ingleses tentam apropriar-se do Infante D.Henrique dado que a sua mãe, Filipa de Lencastre, tem origem inglesa. Com o nosso afinco em promover o que é nosso não me admirava nada que tivessem sucesso. Afinal, Colombo só é tão famoso porque não não soubemos promover adequadamente os nossos feitos muito menos "aleatórios"...
É estranho que para encontrar Portugal tenha de ir ao que se produz fora do país.
* refiro-me evidentemente há nossa "desproporcionada capital", a mais provinciana da Europa.