http://www.makepovertyhistory.org estigma2005: Jovens fortemente taxados

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terça-feira, março 21 

Jovens fortemente taxados

Retiro a seguinte passagem de um texto de Teodora Cardoso publicado da edição Fevereiro/Março da revista Economia Pura:

"A ECONOMIA ENQUANTO CIÊNCIA
A economia tem um estatuto complexo enquanto ciência. (...) Por outro, mais específico, a política económica, que aplica à governação de um país os conhecimentos da teoria, tornou-se cada vez mais importante relativamente à política tout court, (...).
As consequências nocivas para a ciência económica consistem no estímulo ao aparecimento de teorias interesseiras, que supostamente "provam" teses que convêm à ideologia do momento e que as dificuldades de medição dos fenómenos económicos permitem que sobrevivam muito para além do que o seu mérito ciêntífico o justificaria. (...)"

Apesar de não concordar com tudo o que transcrevi esta informação é útil para a análise da questão do desemprego e das políticas que têm em vista reduzi-lo.

Uma ideia comum é a de que os empregadores contratam mais facilmente se existir facilidade de despedimento. Basicamente a decisão de contratar tem um carácter menos permanente para os custos futuros da empresa e como tal o empregador tem menos relutância em contratar. Suponho que é isso que vai na mente dos políticos franceses quando propõem o CPE.
Existem outras ideias como a de que uma redução do salário mínimo diminui o desemprego entre os mais jovens pois são precisamente esses que recebem salários desse nível. Já surgiram medidas em que os jovens têm direito a um salário abaixo do salário mínimo ou então financiado em parte pelo Estado. Vou dispensar-me de comentar os resultados de tais políticas, não é difícil adivinhar, em vez disso vou mostrar as taxas de desemprego em Portugal (INE).

Q3 - Taxa de actividade e taxa de desemprego por grupo etário e sexo







Valor Trimestral

Média Anual

C.V.


Portugal

4ºT-2004

1ºT-2005

2ºT-2005

3ºT-2005

4ºT-2005

2004

2005

4ºT-2005







%



Taxa de desemprego

HM

7,1

7,5

7,2

7,7

8,0

6,7

7,6

3,1






H

6,3

6,5

6,5

6,7

7,0

5,8

6,7

4,5






M

7,9

8,6

8,1

8,9

9,2

7,6

8,7

4,0



















Dos 15 aos 24 anos

HM

15,8

16,0

15,3

16,5

16,4

15,3

16,1

5,9






H

13,7

13,0

13,6

13,4

14,6

13,5

13,6

8,5






M

18,5

19,7

17,6

20,4

18,6

17,6

19,1

8,5



















Dos 25 aos 34 anos

HM

7,8

8,9

8,1

9,0

9,4

7,2

8,9

5,2






H

7,0

7,2

6,8

7,4

7,7

6,0

7,3

8,1






M

8,8

10,7

9,5

10,8

11,3

8,5

10,6

6,9



















Dos 35 aos 44 anos

HM

6,2

6,6

6,3

6,2

6,8

5,5

6,5

6,5






H

4,9

5,5

5,1

4,8

5,3

4,4

5,2

9,9






M

7,7

7,9

7,6

7,8

8,6

6,8

8,0

7,6



















Com 45 e mais anos

HM

4,6

4,8

5,1

5,5

5,6

4,5

5,2

5,0






H

4,7

5,0

5,2

5,7

5,6

4,5

5,4

6,8






M

4,5

4,5

4,9

5,2

5,6

4,6

5,1

7,0


Portugal tem tradicionalmente taxas de desemprego baixas, mesmo assim a taxa de desmprego até aos 25 anos é relativamente mais elevada que qualquer uma das restantes. No nosso país ninguém se lembraria de uma medida como o CPE francês para reduzir o desmprego. Na verdade, os franceses limitam a idade para a qual o CPE é válido, o que não acontece em Portugal. Garantimos assim um mercado do trabalho a dois tempos, um para os mais velhos e que prima pela estabilidade, outro para os jovens e que se destaca pela incerteza e desemprego.

Toda a flexibilidade do nosso mercado laboral resulta principalmente numa relação ainda mais desiquilibrada entre empregado e empregador. Quando se está permanentemente na iminência de despedimento há uma certa tendência para aceitar condições de trabalho mais abusivas. Este é um daqueles elementos que as taxas não captam, tal como não captam a sensação de incerteza e a angústia de alguns jovens que vivem constantemente a entrar e a sair do mercado de trabalho. Para agravar essas sensações há todo um conjunto de expectativas que não se concretizam, expectativas alimentadas com a mentalidade protestante de valorização da actividade profissional acima de qualquer outra coisa e das constantes mensagens de casos de sucesso e de pessoas que chegam ao topo (talvez do arranha céus de onde se irão atirar). A incerteza é um custo bastante elevado a pagar por uma taxa de desemprego mais baixa.

Tais medidas reduzem o desemprego?
A minha posição é que estas ideias cabem perfeitamente naquela descrição que transcrevi no início do texto. A flexibilização de tudo resulta em nada em termos dos objectivos iniciais, é uma ideia que está na moda há mais de 20 anos e que no futuro não produzirá os resultados desejados. Mesmo quando nos enquadramos o problema na situação descrita tradicionalmente em Economia, a flexibilização resulta numa convergência com a taxa de desemprego natural, taxa essa que se desconhece e pode ser maior ou menor que a actual. Mesmo que o desemprego seja menor há custos não quantificáveis associados a essa melhoria relacionados com a incerteza e a melhor ou pior capacidade de lidar com ela. Nunca ocorre aos políticos modernos que grande parte da população valoriza bastante a estabilidade, tal como não ocorrem medidas como diminuir o grau de abertura da economia para proteger sectores sensíveis. Simplesmente não é a moda que domina a "ciência" do momento. Não significa que essas possibilidades fossem solução para o problema, no entanto é de notar que nem sequer são tidas em conta como possibilidades.

Estou de acordo contigo.

concordo no que dizes mas (como tudo) acho que isto é uma visão redutora do assunto.
Assim que puder faço um texto

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