Ânsia da tolerância
Vi pela primeira vez o assunto da tolerância em "Tratado sobre a Tolerância" de Voltaire. No entanto aquilo que se trata no livro está mais distante do que é o conceito de tolerância e mais próximo da ideia "vamos ser amigos e por isso não prendam pessoas na roda para de seguida lhe baterem com barras de ferro e lhe partirem os membros". Infelizmente tolerar não é assim tão simples.
Uma definição de tolerância feita à pressa para o blog pode ser: tolerar é não agir contra algo que vemos como mau. O "algo que vemos como mau" varia de cultura para cultura, o respectivo conjunto de valores é que vai definir o que é mau e o que não é. Com esta definição a tolerância já lhe deve ter deixado de parecer uma virtude tão intransigentemente defensável como em geral é. Juntamente com a liberdade, a tolerância é um daqueles conceitos de difícil tratamento teórico e de grande ambiguidade nas questões práticas.
Pense num país ou mais que sejam marcadamente tolerantes.
Já pensou?
Talvez lhe tenha ocorrido a Holanda? Talvez a Dinamarca? Talvez um país nórdico ou o Canadá? Todos eles são casos prováveis para candidatos à imagem de países tolerantes ou países em que a tolerância entrou na esfera dos seus valores culturais. Talvez até os considere bastante "civilizados".
E de facto são tolerantes, extremamente tolerantes. Por isso são maus locais para ir caso tenha algum conjunto de valores. Lá encontraram a arrogância da tolerância, ou somos tolerantes como eles e deixamos de ter valores passando a ser uma contorcionista chinesa da moral ou então somos mal tratados ou expulsos. Não parece muito tolerante, pois não? Não há nenhum respeito pelas outras culturas, temos mais uma ditadura, a da tolerância. Não tolerar é intolerável.
Esta já era uma ideia que tinha há bastante tempo, foi reavivada pois este fim de semana vi uma notícia sobre certos videos que os emigrantes Holandeses têm de ver e que muitas vezes chocam com a sua cultura em assuntos como a homossexualidade. Tem mesmo alguma relevância pôr num filme dois homens a beijar-se? Era necessário ou não passa de uma provocação?
Há já algum tempo o assassinato de Theo van Gogh, pretenso realizador, levantou a questão da tolerância e de quão selvagens eram os muçulmanos. Confesso que ao fim de ver o filme, chamemos-lhe assim, que motivou o asssassinato até eu tive vontade de ir acabar com esse Gogh. Aquilo não passava de um insulto aos muçulmanos e a todos os tolerantes não acéfalos e com um conjunto mínimo de valores.
Dois pequenos textos onde podem encontrar informações sobre a tolerância e respectivas consequências:
http://chronicle.uchicago.edu/030109/tolerance.shtml
http://afilosofia.no.sapo.pt/tolerancia.htm
Caso tenham mais informações sobre o que se passa nos países em que a tolerância se radicalizou podem partilhá-la aqui.
Uma definição de tolerância feita à pressa para o blog pode ser: tolerar é não agir contra algo que vemos como mau. O "algo que vemos como mau" varia de cultura para cultura, o respectivo conjunto de valores é que vai definir o que é mau e o que não é. Com esta definição a tolerância já lhe deve ter deixado de parecer uma virtude tão intransigentemente defensável como em geral é. Juntamente com a liberdade, a tolerância é um daqueles conceitos de difícil tratamento teórico e de grande ambiguidade nas questões práticas.
Pense num país ou mais que sejam marcadamente tolerantes.
Já pensou?
Talvez lhe tenha ocorrido a Holanda? Talvez a Dinamarca? Talvez um país nórdico ou o Canadá? Todos eles são casos prováveis para candidatos à imagem de países tolerantes ou países em que a tolerância entrou na esfera dos seus valores culturais. Talvez até os considere bastante "civilizados".
E de facto são tolerantes, extremamente tolerantes. Por isso são maus locais para ir caso tenha algum conjunto de valores. Lá encontraram a arrogância da tolerância, ou somos tolerantes como eles e deixamos de ter valores passando a ser uma contorcionista chinesa da moral ou então somos mal tratados ou expulsos. Não parece muito tolerante, pois não? Não há nenhum respeito pelas outras culturas, temos mais uma ditadura, a da tolerância. Não tolerar é intolerável.
Esta já era uma ideia que tinha há bastante tempo, foi reavivada pois este fim de semana vi uma notícia sobre certos videos que os emigrantes Holandeses têm de ver e que muitas vezes chocam com a sua cultura em assuntos como a homossexualidade. Tem mesmo alguma relevância pôr num filme dois homens a beijar-se? Era necessário ou não passa de uma provocação?
Há já algum tempo o assassinato de Theo van Gogh, pretenso realizador, levantou a questão da tolerância e de quão selvagens eram os muçulmanos. Confesso que ao fim de ver o filme, chamemos-lhe assim, que motivou o asssassinato até eu tive vontade de ir acabar com esse Gogh. Aquilo não passava de um insulto aos muçulmanos e a todos os tolerantes não acéfalos e com um conjunto mínimo de valores.
Dois pequenos textos onde podem encontrar informações sobre a tolerância e respectivas consequências:
http://chronicle.uchicago.edu/030109/tolerance.shtml
http://afilosofia.no.sapo.pt/tolerancia.htm
Caso tenham mais informações sobre o que se passa nos países em que a tolerância se radicalizou podem partilhá-la aqui.
Quando vi o título pensava chegar à conclusão de que Portugal seria campeão da Tolerância...
Mas vamos por partes, no que diz respeito ao caso do Theo, confesso que não me suscitou especial interesse, fiquei com a ideia de um acto de fanatismo religioso/ético levado ao extremo (se é que o fanatismo ainda pode ser levado ao extremo...) algo típico do mundo Ocidental... Muito usado em certos países ocidentais, também muito tolerantes, como por exemplo... Deixa cá ver... os Estado Unidos da América! São também muito tolerantes com certas coisas: pretos, índios, imigrantes legais (leia-se "ilegais porreiros") e principalmente Países cujos valores sociais sejam muito escuros... assim tipo petróleo!!
Já na parte da tolerância propriamente dita, penso que os Portugueses são campeões na arte de tolerar, senão vejamos alguns exemplos:
> Todos concordam que os políticos isto e aquilo, só que no dia das eleições votos em branco quase não existem... Para quem não saiba, quando nenhum partido ou idéia nos satisfaz, o voto em branco significa isso mesmo!
> Fala-se na corrupção em vários sectores da sociedade (Apito Dourado, Casa Pia, Entre-os-Rios, ...) e no fim ninguém é culpado de nada e o povão nem fica chateado...
> Todos concordam que por cá se conduz muito mal e no entanto toda a gente ultrapassa o que está estipulado na lei (inclusive, e principalmente, quem fez as leis)... Sem que ninguém faça nada...
> Toda a gente reprova o cuspir para o chão e outros actos menos próprios, mas quase todos os que os vêem ignoram que eles foram praticados...
> O desrespeito pelos mais velhos que existe nos actuais teens (e mais novos) é amplamente tolerado pelos Pais, Escola e Estado...
De facto, quando penso nos países nórdicos, lembro-me sempre de frio, pessoas frias, rigorosas e tolerantes com certos aspectos mas completamente introlerantes com: indisciplina, incumprimento de regras sociais, incumprimento de códigos e leis...
Porventura povos frios, com valores diferentes e tolerantes a isso, mas cumpridores e respeitadores das leis e códigos morais vigentes...
Posted by as_te_ri_x | 3/4/06 02:31
Faz-me lembrar um filme, algo conhecido, penso até que ganhou o óscar da academia de melhor filme de 2005, "Crash".
O tipo mais "bonzinho" e mais tolerante acaba por matar o rapaz negro... O cerne da questão neste caso não é a tolerância, mas sim a distância que separa as palavras dos actos...
Dizer isto ou dizer aquilo não implica infelizmente que as nossas acções se reflitam nas nossas palavras. Como disse um economista muito em voga actualmente, Steven Levitt, "A moral diz-nos como o mundo deveria ser, a economia diz-nos como o mundo realmente é".
Frase muito discutível, rconheço, eu próprio não concordo completamente com as ilações que podemos retirar da mesma. Começando logo pela definição de ciência económica e do seu objectivo, mas não pretendo ir por aí.
Conclusão, actos e palavras nem sempre apresentam uma correlação muito forte. Para mim, infelizmente...
Posted by Vitor Pina | 3/4/06 17:17
Muito Bom. Parabéns Razio. É seguramente o teu melhor post de sempre aqui no blog. Acho que até agora ainda não me tinha apercebido da ambiguidade do termo tolerância e que a tolerância em excesso também é mau.
Vitinho não acho que no "crash" o objectivo seja mostrar que o mais tolerante é que erra, acho que a ideia é mais mostrar a ambiguidade do ser humano perante as situações em que se encontra. Aconselho o filme e a tolerância, mas claro, numa óptica moderada.
Posted by usual_suspect | 3/4/06 23:08
Bem primeiro isto é um excelente texto, publica isto razio!
Primeiro acho que a tolerância é acima de tudo um termo relativo, relativo ao tempo e ao espaço, não podemos dar uma definição especifica de todas as coisas que são tolerantes, imaginemos que à 400 anos achavamos (portugueses e sul europeus) a inquisição uma coisa necessária, ou o comércio de escravos para as américas, desculpem a brutalidade dos exemplos!
A minha opinião pessoal é que dos países que conheço minimamente até somos minimamente tolerantes. Basta pensar em Espanha para ficarmos bem vistos!
Quanto aos nórdicos, como em muitas outras coisas, acho que são um excelente exemplo. A questão se são frios ou não acho que é uma questão mais social do que propriamente a ver com a tolerância, e não vou entrar nisso aqui. São países que são muito tolerantes, tanto a nível étnico, politico e religioso. A questão de querer alastrar essa "tolerância" aplica-se em certa medida (mas em menor escala que em outros casos bem conhecidos). Apesar disso a Suécia por exemplo tem consciência disso, é um assunto amplamente discutido em debates televisivos, um exemplo dos melhores que se pode encontrar (apesar de não serem perfeitos).
Mas falando um pouco dos EUA, penso que a nível interno são muito mais tolerantes que qualquer país Europeu que conheça(sim é mesmo verdade), pelo menos é o unico país onde vês:
- uma percentagem esmagadora de pessoas oriundas de minorias étnicas (negros, asiáticos, mexicanos) em posições de direcção e a ocupar cargos importantissimos no governo central, local e em empresas
- em 4 meses não vi um unico sinal de racismo em qq dos sitios que vi
- não vi um sinais de segregação (exemplo: noite africana da Via Latina!)
talvez as pessoas estejam habituadas a que a sociedade seja composta por uma grande diversidade étnica, coisa que claramente não acontece na Europa.
A nível de tolerância externa talvez possamos falar que haja tolerância para países que partilham uma noção igual de tolerância, que são a Europa, Austrália, América do Sul e Central (salvo as excepções conhecidas!) e a maior parte da ásia (basicamente o mundo não islâmico)!
Pensando um pouco.......será que até aos dias de hoje a tolerância na prática não foi sempre uma aceitação de prróximidades?
Posted by silvio_teixeira | 5/4/06 03:33