http://www.makepovertyhistory.org estigma2005: A sociedade dos 1.000€

« Início | Subjectivação... Animalização... Consciencializaçã... » | Tool... Lateralus... 10,000 Days » | Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades » | Já Nasceu...Já Nasceu.... » | What have I become? » | CES » | A Páscoa chegou! » | Testes de Orientação Politica II » | Testes de Orientação Política » | A Caixa de Pandora » 

segunda-feira, maio 1 

A sociedade dos 1.000€

A sociedade onde todos os seus elementos ganham sempre apenas 1.000€ por mês

MATERIAL NECESSÁRIO:
Uma qualquer Sociedade constituída por pessoas responsáveis e cumpridoras dos seus direitos e deveres, com indivíduos de ambos os sexos e abrangendo todas as faixas etárias.
Vencimento mensais vitalícios de 1.000€ para cada um dos membros da Sociedade.

RELATÓRIO:
O Joãozinho acabou de ser concebido... Durante os próximos nove meses a sua mãe vai ficar em casa a preparar o seu nascimento... O que lhe vai permitir poupar mais algum dinheiro (não tem que se deslocar nem almoçar no emprego), ter a casa mais arrumada, estar mais relaxada e despreocupada e começar a pensar no nome do bebé (nós já sabemos que será Joãozinho).

Joãozinho nasce e daqui em diante receberá sempre apenas 1.000€ por mês, dinheiro que os seus pais utilizam para lhe comprar comida, roupa, brinquedos e demais acessórios essenciais a bebés. O remancescente é colocado em Poupanças para o Futuro a que o Joãozinho terá acesso quando for mais crescido.

A mãe do Joãozinho acompanha-o ininterruptamente até este cumprir 4 anos, altura em que pode começar a frequentar o Jardim-Escola (instituição pública que faz a transição entre o seio familiar e o ambiente educativo futuro) onde irá aprender mais algumas regras de comportamento em sociedade (a maior parte já aprendeu com a sua mãe em casa) saber conviver com os restantes colegas e começar a utilizar instrumentos importantes como: papel, lápis, marcador, computador, tesoura, ...

Aos 6 anos o Joãozinho entra para a Escola Primária onde durnte 4 anos aprende a ler, escrever, fazer contas, a História e histórias, o Meio em que vive, ...
A sua formação continua e frequenta o Segundo Ciclo onde tem contacto com outras vertentes Línguas Estrangeiras, Ciências e afins... Muito parecido com o Terceiro Ciclo que se segue.
Após este o Joãozinho tem que escolher o seu papel na Sociedade dos 1.000 €. Pode ser aconselhado a seguir um curso vocacionado para começar a trabalhar mal acabe o 12º ano, ou então algum que lhe permita continuar para o ensino superior.
O Joãozinho tem um colega, o Zézinho, que (coitado) tem algumas limitações (não atina com o Português) e farta-se de dar erros, pelo que foi aconselhado a procurar algo relacionado com uma profissão que não exija a escrita e leitura permanentes: operário da construção civil, sapateiro, operário da lavoura, funcionário de limpeza, ... Assim, durante três anos vai frequentar um curso (da área que escolher) onde vai aprender alguma teoria e começar a praticar imediatamente. Terminado este período ingressa na vida Activa e poderá começar a procurar sítios onde exista trabalho.

Já o Joãozinho é um 'tola' e é encorajado a prosseguir os seus estudos segundo um curso orientado para o Ensino Superior. Ao frequentar este o Joãozinho já faz parte da População Activa (+ 18 anos) e pode, conciliando com o curso, contribuir para esta, investigando e escrevendo artigos (em áreas mais teóricas) ou até trabalhando com empresas, entidades ou pessoas da área (em áreas mais práticas). Terminada a sua formação Superior poderá começar a procurar sítios onde possa trabalhar.

O Joãozinho como teve formação superior na área da Biologia e manteve alguns contactos (tendo até ajudado no Jardim Zoológico) foi trabalhar para o Jardim Zoológico, que tinha uma nova vaga devido à aquisição de mais 17 novas espécies de insectos...

Esqueci-me de referir que o Joãozinho casou aos 18 anos e foi pai aos 20 anos, isto porque se atrasou um bocado e teve até que consultar um especialista e fazer alguns exames... Mas era uma questão de 'posição' e não um defeito biológico... De facto era comum casar aos 18 anos e gerar logo descendência, isto porque não havia a desculpa dos filhos sairem muito caros e de uma pessoas estar só agora a começar a trabalhar e a ganhar dinheiro...

Um amigo de infância de Joãozinho, o Pedrinho, que sempre foi um líder nato dentro da turma, estudou e formou-se em Direito, estando agora a trabalhar: como Secretário de Estado do Governo; a gerir o seu escritório de advogados; e a participar na gestão do Banco do Estado Nacional (BEN). Aufere por isto tudo adivinhem lá... Claro! Está na cara: 1.000€.

O Pedrinho até é muito amigo de um senhor, o Huguinho, que está há mais de 15 anos a gerir a Empresa Nacional de Telecomunicações e que devido aos enormes lucros desta, aufere mensalmente... 1.000€, tanto quanto o Zézinho (amigo do Joãozinho e que não atinava com o Português) que está empregado nessa empresa como funcionário de limpeza (e que nas horas livres até ajuda na Associação de Apoio aos Idosos).


CONCLUSÕES:
Será fazível?

Depois de saber que o Sr. J. Sócrates foi a Angola com 80 empresários que representavam um terço da riqueza nacional penso que os vencimentos vitalícios de apenas 1.000€ até seria alcançável.

Mas ponderndo tudo acho que esta Sociedade não poderia existir/singrar.
A principal razão deverá ser a falta do material necessário: pessoas responsáveis e cumpridoras dos seus direitos e deveres.

Este é um texto que defende radicalmente o igualitarismo. Isso é "anti-humano", a nossa espécie não se sente bem nesse ambiente.
É pena.


Pensei que este seria um texto sobre "os 1000 euristas", os jovens licenciados que, apesar de nalguns casos serem cada vez menos jovens, não conseguem auferir mais de 1000€.

Informações sobre esse assunto (recomendo a leitura para quem não leu o que vinha no Courrier Internacional):
http://para-amigos.blogspot.com/2006/02/gerao-1000-euros.html
É uma questão de não correspondência às expectativas.

A escolha dos 1.000€ foi arbitrária, inicialmente até tinha pensado num salário pago apenas em géneros alimentícios, roupas e acessórios mais ou menos indispensáveis...

Acabei por optar pelo dinheiro por que é mais fácil de imaginar (e não é tão utópico) que daria para que qualquer pessoa conseguisse viver condignamente de forma humana, esquecendo a parte animalesca de tentar sempre ganhar mais e mais, custe o que custar.

Aqui não pretendia apenas discutir sobre os valores solidários e igualitários (sim) que caracterizam o ser humano... Compreendo que seria difícil para pessoas que nascessem em berço de ouro ganharem apenas 1.000€ para sustentarem as 3 casas na cidade, mais a herdade no Alentejo, a casa nas Seychelles, o estacionamento e manutenção do jacto particular...

Mas penso que todos poderiam comprar casa quando atingissem a maioridade, planear a sua família com mais certezas e viver mais tranquilos sem a preocupação de arranjar um part-time para pagar as prestações do carro...

A ideia fez lembrar a vida em mosteiros. Só é pena é não se poder levar uma família para lá. :)

Controlar o lado "animalesco" é uma tarefa da religião ou ideologia, nenhuma das partes parece estar numa posição de força para levar a uma mudança social no sentido da equidade.

Só o Hinayana é possível, o Mahayana é um optimismo funcional.

Acho o que o grande problema da tua sociedade pseudo socialista é que não há espaço para as oportunidades.

Acredito que para gente muito rica, o dinheiro já não é o desafio, pois já tem mais dele do que vão gastar durante a sua vida. são outros desafios que os fazem querer mais, o que não quer dizer que ísto aconteça com todos.

O estado social deve garantir que todas as pessoas tenham acesso às condições minimas de vida, a partir daí cabe a cada um aproveitar as opurtunidades para conseguirem progredir socialmente e monetáriamente.

Tudo isto pra dizer, que sou totalmente contra uma sociedade em que todos sejam remunerados igualmente. Pois se o meu vizinho é feliz a ganhar 1000€ por mês, tal não quer dizer que eu seja feliz a ganhar o mesmo e deve-me ser dada a oportunidade de eu trabalhar e lutar para ganhar mais e assim atingir a minha felicidade.

Cumprimentos

Obrigado pelo feedback a ambos.

De facto tinha descurado a vertente religiosa, mas a parte das filosofias orientais não percebi lá muito bem...

Quanto às oportunidades, penso que o principal objectivo desta sociedade seria providenciar indivíduos plenamente satisfeitos com a vertente económica, mas nunca com a vertente cultural e laboral.

Penso que os membros se poderiam e quereriam envolver em projectos sem o fito único da remuneração e sem olhar de lado para aquele que só quer mais um "tacho".

Assim, todos teriam a oportunidade (e a obrigação) de querer fazer mais...
Aliás, quando alguém fizesse algo, fá-lo-ia não porque iria ganhar mais dinheiro, mas porque se sentiria realizado, porque iria contribuir para melhorar a sociedade, porque iria fazer alguém mais feliz...

"Assim, todos teriam a oportunidade (e a obrigação) de querer fazer mais...
Aliás, quando alguém fizesse algo, fá-lo-ia não porque iria ganhar mais dinheiro, mas porque se sentiria realizado, porque iria contribuir para melhorar a sociedade, porque iria fazer alguém mais feliz..."

Parece-me uma sociedade utópica e inatingivel. Acho isso incomativel com a natureza humana.

Como li à dias num livro engraçado que ando a ler. " A moral mostra-nos o mundo como gostariamos como ele fosse e a economia o mundo como ele é."

Devo confessar que a questão dos mil euros por mês nos aproxima um pouco da vertente comunista praticada na antiga URSS. A questão é que este modelo entrou em colapso... Confesso não dominar muito bem este assunto, vou tentar fazer alguma pesquisa e continuar a comentar este post...

A questão principal para mim é, será que os desiquilíbrios existentes na sociedade, a nível económico, são globalmente positivos, negativos ou neutros??? Devo confessar que não consigo ter uma visão holista suficientemente abrangente para responder com clareza a esta questão.

Mas, por outro lado, não deixa de ser agradável a ideia de uma sociedade onde todos ganham o mesmo... Mas, e se apenas ganhassem 250 euros? Com ganhos homogéneos os gastos também seriam homogéneos e por exemplo, os bens de luxo deixariam de existir?

"Parece-me uma sociedade utópica e inatingivel."

Concordo plenamente usual_suspect, recordo apenas que eu parti dessa premissa:
"Uma qualquer Sociedade constituída por pessoas responsáveis e cumpridoras dos seus direitos e deveres"

Seria completamente impossível reunir uma sociedade com vários elementos assim, pois basta ter um único, que ao ser adicionado o segundo irão brotar conflitos, quanto mais sociedade...

Como o vitor pina referiu isto também tem um pouco da igualdade comunista... que (in)felizmente (???) não vingou.

No fundo está também em causa a possibilidade de evoluir:
Começámos enquanto animais, evoluímos para grupos sociais de indíviduos com regras e hierarquias definidas pela lei do mais forte, passou-se depois para uma vertente mais mercantilista (troca por troca) e posteriormente para uma mais economicista.
Parece que a razão, lógica e pensamento foi desenvolvendo modelos mais apropriados e evoluídos.
Mesmo que o comunismo não tenha surtido efeitos, algo terá que suceder à vertente económica do Mundo...

Resta então tentar perscrutar o quê

Enviar um comentário