Religiões, algo vai mal no reino da Dinamarca.
No fórum tenho uma pequena discussão com outra pessoa que decidi publicar aqui. Se quiserem ver o fórum, porque só vou transcrever aquilo que escrevi e não o comentário de outro frequentador do fórum, basta irem ao mconsolas.net, no [http://mconsolas.net/phpbb2/viewtopic.php?p=234831#234831]
Escrevi inicialmente:
"As religiões deveriam ter um papel mais importante na vida da nossa sociedade, uma vez que fornecem um suporte para uma moral e um conjunto de valores que, tirando algumas excepções, poucos duvidam que são bons. Uma maior espiritualidade e prática religiosa melhoraria a vida de muitas pessoas e afastaria o materialismo puro em que a generalidade vive que, se não é mau, pelo menos é entediante.
Um dos valores comuns às religiões é a tolerância. Mas o que se entende por tolerância? É não reagir perante algo que ajuizamos como mau, é permitir o mal. Daí que o conceito seja de tão difícil tratamento, tem a natureza padoxal de ser simultaneamente bom e mau, havendo ainda o problema de o nosso juízo sobre algo estar errado e esse algo não ser intrinsecamente mau ou bom. Dosear a tolerância é extremamente difícil, daí que seja perigoso provover demasiado a tolerância, corre-se o risco de cair num completo niilismo ou num relativismo.
Entender os limites da tolerância tem sido um problema posto nestes dias em que quem é Dinamarquês, e não só, corre muitos riscos se andar num país muçulmano. Os cartoons foram demais para a tolerância de alguns muçulmanos e estes reagiram de forma violenta. Ao contrário de que acontece por todo o "ocidente", a religião para essas pessoas é um assunto sério, um ataque implica uma reacção porque foi afectada a sua honra (outro conceito de difícil compreensão para quem não tem valores para além do palavreado florido). A reacção não era imprevisível, não há aqui um relativismo dos revoltosos, os seus valores impelem-nos para a reacção. E fazem muito bem.
E do nosso lado, que posição tomar? O já mencionado risco de promover em excesso a tolerância torna difícil a reacção. Sem uma matriz de valores bem definida não se sabe o que fazer. Uma não-reacção diminui ainda mais o respeito dos outros por nós.
Se alguém nos ataca nós devemos defender-nos, ameaçar e cumprir as ameaças se for necessário. Além disso, se alguém é estúpido demais para não perceber o que não deve publicar por ser ofensivo e perturbar a paz deve ser punido nos moldes que a lei o permitir. Afinal a esta zona do mundo sempre foi dura, a paz actual não reflecte a nossa história turbulenta. A tolerância sempre foi mais retórica do que prática. "
Após um comentário complementei com o seguinte:
"Mais incrível que um ateu a promover a religião, como é o meu caso, é dizer que aconteceram guerras em nome da religião e omitir as guerras em nome dos já mencionados direitos do homem. As constituições, o movimento iluminista, o surgimento das repúblicas, tudo se promoveu em banhos de sangue. É como uma estância termal, um copinho de sangue de manhã, outro ao final da tarde, e conseguimos uma sociedade melhor (avaliada pelos novos valores...) no fim do tratamento. Se Portugal é uma república isso deve-se em parte aos terroristas que conseguiram o regicídio. Essas pessoas que conseguiram idealizar e lutaram pelos seus ideais podiam não ser religiosas, mas eram idealistas, algo que também tem uma dimensão espiritual. É natural ao homem sofrer. Sofremos, e para eliminar ou atenuar esse sofrimento temos necessidade não de ter um topo de gama, ou até dois, mas sim de conseguir procurar um bem estar espiritual, seja ele procurado através religião ou por ideais. O bem estar vem do espírito, ou serei muito mais feliz que os meus pais por ter uma DS? Mais bens disponíveis reflectem apenas mais "ilusão de riqueza" e não mais bem estar.
Nietzche sugere que o homem se livre de Deus e seja senhor dos seus próprios valores. Com algum mau gosto o movimento nazi inspira-se nestas ideias, e o resto é história.
O se pretende é criar um super-homem, senhor do seu destino e inteiramente responsável pelos seus actos, e não uma criatura que quer sair do jogo, que não tem valores e acha que os valores que não tem são os melhores. É curioso que apareçam pessoas a escrever, como vi no fim de semana, acerca da superioridade da civilização ocidental (o que quer que isso seja) que tem uma inspiração judaico-cristã (afinal é ocidental ou do médio-oriente?) e que vive num período de pós-modernismo, a meu ver uma nova idade das trevas. As luzes ficaram fortes demais e nós, encandeados, somos orgulhosos demais para olhar noutra direcção. Os danos oculares podem ser irreparáveis, da luz emergem as trevas."
Escrevi inicialmente:
"As religiões deveriam ter um papel mais importante na vida da nossa sociedade, uma vez que fornecem um suporte para uma moral e um conjunto de valores que, tirando algumas excepções, poucos duvidam que são bons. Uma maior espiritualidade e prática religiosa melhoraria a vida de muitas pessoas e afastaria o materialismo puro em que a generalidade vive que, se não é mau, pelo menos é entediante.
Um dos valores comuns às religiões é a tolerância. Mas o que se entende por tolerância? É não reagir perante algo que ajuizamos como mau, é permitir o mal. Daí que o conceito seja de tão difícil tratamento, tem a natureza padoxal de ser simultaneamente bom e mau, havendo ainda o problema de o nosso juízo sobre algo estar errado e esse algo não ser intrinsecamente mau ou bom. Dosear a tolerância é extremamente difícil, daí que seja perigoso provover demasiado a tolerância, corre-se o risco de cair num completo niilismo ou num relativismo.
Entender os limites da tolerância tem sido um problema posto nestes dias em que quem é Dinamarquês, e não só, corre muitos riscos se andar num país muçulmano. Os cartoons foram demais para a tolerância de alguns muçulmanos e estes reagiram de forma violenta. Ao contrário de que acontece por todo o "ocidente", a religião para essas pessoas é um assunto sério, um ataque implica uma reacção porque foi afectada a sua honra (outro conceito de difícil compreensão para quem não tem valores para além do palavreado florido). A reacção não era imprevisível, não há aqui um relativismo dos revoltosos, os seus valores impelem-nos para a reacção. E fazem muito bem.
E do nosso lado, que posição tomar? O já mencionado risco de promover em excesso a tolerância torna difícil a reacção. Sem uma matriz de valores bem definida não se sabe o que fazer. Uma não-reacção diminui ainda mais o respeito dos outros por nós.
Se alguém nos ataca nós devemos defender-nos, ameaçar e cumprir as ameaças se for necessário. Além disso, se alguém é estúpido demais para não perceber o que não deve publicar por ser ofensivo e perturbar a paz deve ser punido nos moldes que a lei o permitir. Afinal a esta zona do mundo sempre foi dura, a paz actual não reflecte a nossa história turbulenta. A tolerância sempre foi mais retórica do que prática. "
Após um comentário complementei com o seguinte:
"Mais incrível que um ateu a promover a religião, como é o meu caso, é dizer que aconteceram guerras em nome da religião e omitir as guerras em nome dos já mencionados direitos do homem. As constituições, o movimento iluminista, o surgimento das repúblicas, tudo se promoveu em banhos de sangue. É como uma estância termal, um copinho de sangue de manhã, outro ao final da tarde, e conseguimos uma sociedade melhor (avaliada pelos novos valores...) no fim do tratamento. Se Portugal é uma república isso deve-se em parte aos terroristas que conseguiram o regicídio. Essas pessoas que conseguiram idealizar e lutaram pelos seus ideais podiam não ser religiosas, mas eram idealistas, algo que também tem uma dimensão espiritual. É natural ao homem sofrer. Sofremos, e para eliminar ou atenuar esse sofrimento temos necessidade não de ter um topo de gama, ou até dois, mas sim de conseguir procurar um bem estar espiritual, seja ele procurado através religião ou por ideais. O bem estar vem do espírito, ou serei muito mais feliz que os meus pais por ter uma DS? Mais bens disponíveis reflectem apenas mais "ilusão de riqueza" e não mais bem estar.
Nietzche sugere que o homem se livre de Deus e seja senhor dos seus próprios valores. Com algum mau gosto o movimento nazi inspira-se nestas ideias, e o resto é história.
O se pretende é criar um super-homem, senhor do seu destino e inteiramente responsável pelos seus actos, e não uma criatura que quer sair do jogo, que não tem valores e acha que os valores que não tem são os melhores. É curioso que apareçam pessoas a escrever, como vi no fim de semana, acerca da superioridade da civilização ocidental (o que quer que isso seja) que tem uma inspiração judaico-cristã (afinal é ocidental ou do médio-oriente?) e que vive num período de pós-modernismo, a meu ver uma nova idade das trevas. As luzes ficaram fortes demais e nós, encandeados, somos orgulhosos demais para olhar noutra direcção. Os danos oculares podem ser irreparáveis, da luz emergem as trevas."
Muito oportuna esta reflexão sobre religião e ideais... As perspectivas estão bastante bem esgrimidas.
Enquadrando isto com as caricaturas, vou só lançar mais alguma água (não na fervura) mas na corrente:
Será que o problema levantado pelas caricaturas é de índole religiosa ou idealista. Pelo que sei o jornal que "mandou" fazer as ditas pretendia lançar em discussão o tema da liberdade de expressão...
Por outro lado a reacção do "Mundo Árabe" não se fez esperar e criou uma massa de indignação crescente que tem vindo a exorcizar-se aqui e ali, impelida pelos líderes religiosos...
Não é minha convicção que alguma destas visões se bata por interesses religiosos. Penso que ambas almejam discutir e dar ênfase a ideais diferentes: liberdade de expressão e unidade e revolta contra o Mundo Ocidental!
A religião funciona como pretexto para que seja mostrada e afirmada a abissal diferença entre as culturas árabe e ocidental...
Tal como o ideal de Um Mundo sem Armas Atómicas serve de pretexto para altos interesses económicos...
Posted by as_te_ri_x | 20/2/06 00:40
já me chateia a história das caricaturas... nem sequer vou comentar
Posted by usual_suspect | 23/2/06 12:45